quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Brinde do dia: pensamentão de Carlos Drummond de Andrade




“Sei que algumas pessoas não gostam de mim. Mas não me preocupo, pois sei também, por experiência própria, que ao fim e ao cabo todo sujeito inteligente acaba gostando de mim.”

Carlos Drummond de Andrade




terça-feira, 25 de setembro de 2012

Sepúlveda ficou a ver pertences Ou: O DNA de Lula e Dilma



Há quem defenda que não há identidade entre Lula e Dilma. Uns, por julgarem Lula um pilantra, sendo que Dilma seria uma santa e, outros, por acharem que é exatamente o contrário: Lula seria um líder visionário e Dilma uma burocrata meio cafona. É um assunto triste, que não interessa a ninguém fora do círculo dos áulicos de sempre, os partidários de carteirinha, os desejosos de cargos e funções.
Agora, dois acontecimentos recentes me fazem temer que entre Dilma e Lula exista uma verdadeira identidade genética, uma simbiose perfeita.
O primeiro caso é a nomeação em tempo recorde do novo ministro para o STF, na vaga aberta com a aposentadoria de Cezar Peluso. Estamos todos aguardando a que virá esse novo ministro - Teori Zavascki – e que apito tocará. Poderá não assumir a tempo de julgar o mensalão, poderá se declarar impedido para julgar e poderá se mostrar muito interessado e “pedirá vistas” (oh, expressãozinha medonha!) do processo. Nesse caso, temo que o ministro Joaquim Barbosa gritará “Shazam!” e partirá para uma arrumação na casa à maneira do Capitão Marvel.
O outro sinal de igualdade no DNA de Lula e Dilma, se manifesta nesse episódio da saída do ministro Sepúlveda Pertence da Comissão de Ética Pública da Presidência da República. Pois o ministro estava, como se diz dos técnicos de futebol, sendo fritado pela presidente e acabou sem quórum – ou seja, esvaziaram a sua Comissão, que tem o elevadíssimo propósito de administrar a aplicação do Código de Conduta da Alta Administração Federal.
Pois é nesses golpes baixos, nessas malandragens óbvias de origem sindicalista e comuns nas lutas entre facções da esquerda – muito semelhantes às práticas da direita - que se movem Lula e Dilma e seus respectivos DNAs. Como os dois indicados por Pertence desagradaram Dilma – um votou no caso Carlos Luppi, que renunciou ao ministério do trabalho – e outro foi relator do caso Palocci e estava bisbilhotando o Fernando Pimentel, ministro da Indústria e Comércio, Dilma não os reconduziu.
Foi assim que Sepúlveda ficou a ver pertences.


domingo, 23 de setembro de 2012

A grande paixão de Ademar




Era miúdo e magrinho. Desconfiando e tímido.
- Deseja alguma coisa? – perguntou o funcionário.
O homem olhou assustado para ele, como se não entendesse a pergunta.
- Não, não... quer dizer... Eu queria uma informação.
- Pois não.
- Aquela voz na saída do estacionamento do shopping...
- Voz?
- A gravação. “Volte sempre” – o homem se emocionou ao dizer a frase.
- Ah, sei.
- Ela está? Quer dizer... ela trabalha aqui?
O rapaz sorriu:
- Não, senhor – e atendeu uma mulher que lhe estendeu um cartão de estacionamento.
Quando ficaram a sós, o homem retomou:
- Sabe onde... ela trabalha?
- Nem sei quem ela é, senhor.
O homem pareceu decepcionado.
- O jovem me desculpe, mas... é uma voz tão... tão...
O jovem precisou atender outro cliente.
- ...tão quente, disse afinal o homem.
- É, fez o jovem. Muito quente.
- Uma voz belíssima, enfatizou o homem.
Os dois ficaram se olhando até que alguém perguntou:
- Pode cobrar meu estacionamento?
O jovem despertou. Cobrou o estacionamento e disse para o homem:
- Mas o que o senhor quer?
- Falar com ela.
O jovem riu.
- Não ria, pediu o homem. É sério. Essa voz... você pode me ajudar?
O rapaz disse, penalizado:
- Vou tentar.
- Obrigado. Eu volto amanhã.
No dia seguinte, na mesma hora, lá estava ele:
- Conseguiu?
O rapaz, entre um atendimento e outro, passou ao homem um papelzinho. Disse;
- É da empresa que fez a instalação. O senhor veja.
O homem agradeceu emocionado e saiu com os olhos fixos no papelzinho. Achou a empresa, depois a agência, depois o contato com a mulher que tinha aquela voz.
- Queria falar com ela, pediu.
O sujeito careca e de óculos, o agente da voz, disse que qualquer contato só seria feito através da agência. Endereço, jamais. Foi quando o homem explicou:
- É que eu estou apaixonado. Preciso falar com ela.
- Apaixonado? – o careca sorriu – Sinto muito, senhor. A voz é belíssima, mas ela é casada. E tem uns dez anos mais do que o senhor.
O homem demorou a se recuperar. Foi até a porta, voltou:
- Será que ela faria uma gravação?
- Se fizermos um contrato... insinuou o careca.
- Pago o que pedir.
- E o que o senhor deseja?
- Quero que ela grave o seguinte, com aquela voz quente: “Volte sempre, Ademar.” – Ademar sou eu, disse, apontando o próprio peito – Quero ouvir antes de dormir. “Volte sempre, Ademar”.
- Só isso?
- Já é alguma coisa – o homem, tímido e infeliz, baixou os olhos – Nunca me pedem para voltar, explicou. Muito menos que volte sempre – e, após assinar o contrato, arrematou: Isso vai me fazer um grande bem, o senhor pode acreditar.



sábado, 22 de setembro de 2012

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Fotos da realeza - isso é jornalismo?



Há poucos dias fotos do príncipe Harry pelado circularam mundo afora. Ele estava numa festa e algum amigo da onça fez as fotos.
Agora, fotografaram os seios da princesa. Ela estava com o marido, em um lugar particular e algum fotógrafo, com um zoom poderoso, capturou as fotos.
Eu me pergunto:
Com que direito esses fotógrafos - e a mídia que publica suas fotos - acham que podem invadir a vida alheia?
Que importância jornalística em divulgar um príncipe nu e uma princesa com os seios de fora?
Esse tipo de jornalismo bobalhão e sádico pratica uma distorção mórbida do direito de informar e de investigar. É um jornalismo que não respeita direitos básicos a que todos, tanto a realeza quanto a patuléia, têm direito. Portanto, a meu ver, não é jornalismo. É pura e simples perversidade.
A mídia faz de conta que não percebe que desrespeitar os direitos de qualquer cidadão é um desrespeito aos direitos de todos.
Ou percebe e nem dá bola.
Que outros direitos nossos a mídia ignora em favor de seus negócios?




domingo, 9 de setembro de 2012

Vai bem o andar da carruagem do STF





Nesse país de tantos desatinos e frustrações, afinal vem do STF alguma luz. Logo da carruagem do STF, um tanto arcaica e fora de moda, não raro dissimulada por detrás de um linguajar pernóstico e cansativo. Mas é preciso reconhecer: há um fundo de indignação ética que afinal alcança os poderes mais altos da República. Os cafajestes de todas as espécies têm com o que se preocupar.
De um modo geral, a indignação do povo brasileiro se limita a um muxoxo cético quando se comenta os desmandos do país. As frases preferidas – e lamentáveis – são: “é assim mesmo”, “o Brasil não é um país sério”, “todos agem assim”, “vai terminar em pizza”, “não se pode fazer nada”, “eles acabam dando um jeitinho”. Etc.
Essa ladainha, que se pretende crítica e indignada, é na verdade lamentosa e resignada. Não conduz a lugar algum. Dá-se por estabelecido que o país é mesmo de segunda classe, que os dirigentes sempre fizeram e para sempre farão o que bem entenderem, que a mentira e a trapaça são as grandes contribuições do país à civilização ocidental.
É claro que temos exemplos inúmeros que nos conduzem a pensar assim e sei que não vale a pena enumerá-los aqui. De um modo geral, à ladainha lamentosa dos brasileiros corresponde uma cultura da desconversa por parte de governantes. Os problemas são adiados, minimizados, e se aposta que o próximo escândalo fará esquecer o anterior. Também será esquecida mais uma morte num corredor de hospital, as escolas caindo aos pedaços, as verbas sumindo pelo ralo da corrupção e dos desvios dos caixas dois, os projetos anunciados como se fossem a salvação da pátria que terminam não passando de golpes publicitários fabricados para receber os holofotes da mídia. Pensemos nos inúmeros improvisos nas áreas da educação, da saúde, da infraestrutura etc.
Pois o STF nos dá um contraexemplo. Já não se poderá sustentar impunemente que caixa dois é algo que “todo mundo faz” e que o “mensalão não existiu”. Menos ainda a tese dos advogados dos acusados, me pareceu pífia. Homens cheios de metáforas e ípsilones – quem sabe esperançosos na tradicional impunidade – limitaram-se a exigir a absolvição de seus clientes alegando que não havia provas contra eles. Pois eu penso que, se tudo não passou de ficção, deveríamos candidatar redator do relatório da Procuradoria Geral da República, Roberto Gurgel, ao Prêmio Nobel de Literatura.
No entanto, a novidade nesse momento – e é isso que nos dá alguma esperança – é que juízes do STF estão fazendo apenas aquilo que é óbvio fazer nesses casos. Sem desconversa. Sem jeitinhos. Sem complacência com quadrilheiros de qualquer calibre ou espécie. Analisando provas, relatos, indícios, e aplicando a lei. É apenas isso que se espera de um país que queira de fato dar um salto de consciência social e política, entrando para o rol das grandes democracias.
Até o momento em que escrevo, o STF deu à carruagem um andar seguro e determinado. Age bem. Age como a nação espera que o faça. E tem a chance histórica de dar ao país um exemplo político exemplar – longe das desconversas politiqueiras – mostrando a todos nós o que já sabemos e que há muito esperamos ver convertido em realidade: todos nós somos responsáveis pelo país e ninguém, seja quem for, pode estar acima das leis. Se houve prevaricação, peculato, corrupção passiva ou ativa, se alguém subornou ou foi subornado, não se deve passar a mão na cabeça de partidários e comparsas, eis tudo. Sem desconversa.
É claro que a carruagem ainda está a caminho. Há sempre o perigo de que possa descarrilhar em algum momento, mas vale registrar, antecipadamente, que estamos gostando do andamento. É bom saber que há no país algo mais a aplaudir do que os dribles do Neymar.
Como escrevi no dia 12 de agosto passado, nessa mesma página, a verdade pode ser o óbvio. E fazer o óbvio nem sempre é fácil, mas quase sempre é decisivo.