quarta-feira, 29 de abril de 2015

Batalha do Centro Cívico e/ou O governador sem educação.



Batalhão de choque entra em confronto com manifestantes no Centro Cívico. | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
Centro Cívico, Curitiba, 29/04/2015 (Foto Gazeta do Povo)



No Brasil, qualquer tiranete de anedota, quando apeado ao poder, se julga um soberano por direito divino.
Beto Richa levou esse delírio a seu limite. Não soube expor com honestidade e clareza aos paranaenses qual a situação real das finanças estaduais. Isso comprometeria seu primeiro governo, é claro. Não teve habilidade, e muito menos coragem, de se dirigir à sociedade paranaense e em particular aos professores, explicando o que imaginava fazer e por quais razões. Não negociou, nas medidas que resolveu tomar, com ninguém e de fato ninguém sabe de fato quais as consequências da garfada que ele está dando na Previdência dos Servidores do Estado. Recusou-se a ouvir e a levar em conta as opiniões contrárias da parte interessada, os professores paranaenses.
Por isso recorre ao porrete. Por direito divino se julga autorizado a descer o porrete nos professores indóceis e, depois da pancadaria, dizer que seus policiais não se mexeram nem atacaram, apenas reagiram. Foram os professores que provocaram tudo. Claro, os professores e professoras são conhecidos por seus armamentos e sua forma física avantajada.
Richa montou uma operação de guerra, com centenas de policiais, com carros com jato de água, com helicóptero sobrevoando o local da disputa – e seus soldados levaram para a praça cães pitbull que acabaram mordendo a mão de um deputado e a coxa de um jornalista. No total, os feridos passam de duzentos. Um massacre.
Essa insanidade de se imaginar acima da sociedade para impor a ela o que imagina serem as melhores medidas governamentais e essa arrogância e prepotência com que usa tanto das forças policiais quanto da trupe amestrada de deputados para aprovar suas medidas, explicam o estado deplorável a que chegou o governador, o avesso de um estadista, o covarde agressor da população que deveria respeitar e proteger.
E, não sem simbolismo, agride no caso aos professores. Esse governador já declarou, com sua notória leviandade e boçalidade, que não seria bom policiais fazerem cursos superiores, pois com mais educação eles não seriam tão obedientes.
Foi, sem refletir sobre o que estava dizendo, transparente. O conhecimento o aborrece. Ele não crê em educação, formal ou não. Ele é – e a batalha do Centro Cívico mostrou isso – um robusto deseducado. Um grosseiro sem educação. E gostaria, no fundo, que todos os seus governados fossem assim. Seriam manipulados com maior facilidade.


sábado, 18 de abril de 2015

Livrai-nos, Senhor, dos leitores de um só livro






Como se sabe, é lamentável o baixíssimo número de leitores no Brasil. Há quem não leia nada, sobretudo bons livros.
Não falo dos que são designados como analfabetos. Falo daqueles que, mesmo ditos alfabetizados, muitas vezes tendo cursado universidades, não são capazes de ler, que é algo mais complexo do que identificar letras e palavras colocadas num papel. Ler implica ser capaz de extrair sentido do que está num papel ou tela, ser capaz de apreender o essencial do que é dito pelo texto e de retirar consequências do que lemos, relacionando o que foi lido com um contexto cultural mais amplo – além de ser capaz de saborear o prazer da leitura. Sabemos que estudantes chegam à universidade sem essas capacidades e saem de lá da mesma forma. Diante de um texto minimamente complexo ficam perplexos. Não extraem dele mais do que cansaço mental.
Quem não lê perde parte significativa de sua vida. Lendo mal, pensa mal, usa conceitos frouxos e é facilmente iludido por doutrinadores pilantras ou políticos safados – e não viajam para mundos inexplorados a bordo de um bom texto. Não ler empobrece a vida.
Dia desses encontrei um grupo de jovens que lamentava não ter feito certas viagens. Uns não conheciam Miami, outros nunca foram ao Havaí. Entrei no papo e perguntei se alguns deles lamentava não ter lido certos livros. Ficaram pasmos. Não fui entendido.
Mas há algo mais grave: os leitores de um único livro. São mais perigosos do que os que não leem nada. Conheci analfabetos que eram criaturas sábias. Haviam aprendido por experiência própria, por terem conhecido pessoas bem informadas, por terem sido bons ouvintes.
Já o leitor de um só livro é um caso perdido.
Pode ser um livro de ciências, de filosofia, de autoajuda, de religião, um livro tido como sagrado ou profano, não importa. O leitor de um só livro corre o sério risco de acreditar que naquele texto está a sua segurança emocional e intelectual, a verdade definitiva de sua vida. Por isso sai por aí condenando os outros como hereges.
Cursei filosofia numa época em que se estudava toda a produção filosófica desde o século IV a.C. Um conjunto imenso, mas que cumpria duas funções: dava aos estudantes a noção de como funcionam os diversos sistemas filosóficos e tornava clara a vaidade de todo conhecimento. Ao final se sabia que a verdade é algo disputado, coisa fugidia, mutável segundo épocas e lugares. Isso nos dava razoável paz interior. E nos curava do fanatismo da verdade.
Hoje, nos cursos de filosofia, há professores despejando a verdade única de autores sobre os quais escreveram alguma tese. Conheci um deles. Dava aulas em vários períodos do curso sempre utilizando os mesmos textos de seu ídolo intelectual, Leibniz.
Outros fizeram e fazem o mesmo com Marx ou Gramsci ou Foucault.
Portanto, não existem apenas fanáticos religiosos que leram apenas um livro. Existem fanáticos nos domínios da ciência, da filosofia, da política, que leram um só livro.
São criaturas perigosas. Destinadas ao fundamentalismo, ao pensamento único, à aversão às divergências, à negação de outras formas de pensar e ver o mundo.
Não entendem que a alavanca do pensamento é a dúvida, a incerteza, a humildade intelectual que aceita que sabemos pouco e precisamos pensar mais. Leitores de um só livro se imaginam donos de certezas indiscutíveis, causando catástrofes por onde passam. Estão na origem de todas as guerras e matanças.




quarta-feira, 15 de abril de 2015

Cuidado com a Pousada Serrana, em Caiobá







Em 11/04 paguei antecipadamente, por depósito bancário, hospedagem na Pousada Serrana, Caiobá - Rua Felipe Mendes, 90 - o equivalente a uma diária, R$ 170,00.

Ao chegar, constatei que o quarto era uma espécie de garagem adaptada, onde mal cabia a cama, tendo ao lado um banheiro diminuto. E com uma particularidade: o quarto não tinha janela!!!

Sem janelas!!! Havia apenas uma porta com algumas persianas. Tratava-se de um cárcere, portanto.

Reclamei. O proprietário, Sérgio, deu de ombros.

Encontrei nas redondezas várias pousadas melhores, inclusive quanto ao preço: quase 60% mais baratas – com varanda e janelas!!! 

Voltei à Pousada Serrana e disse que não ficaria ali. Quem me atendeu nesse momento foi a proprietária, que atende pelo nome de Jodeildes, que não disse palavra, limitando-se a fazer cara furiosa de cão de guarda, o que não lhe custou muito esforço. Imaginei que fosse rosnar. Não rosnou. Mas deve imaginar que mete medo em alguém. Já o proprietário se escondeu na sala ao lado.

Senti que seria inútil discutir. Exigi o que havia pago, mas admiti que só podia confiar na consciência deles.

Pois não devolveram nada. E não deram satisfação. É a "consciência" desse tipo de gente. Resta-me desejar que meus R$ 170,00 os ajudem a dar uma melhor aparência ao cubículo que alugam.


Portanto, fiquem longe da Pousada Serrana. Não confiem em gente que cobra por uma coisa e entrega outra.







sexta-feira, 10 de abril de 2015

RATOS À SOLTA (NO PLANALTO E NA VIDA)







Aristóteles foi, no século IV a.C., uma espécie de enciclopédia ambulante. Na verdade, inventou o que hoje chamaríamos de Centro Superior de Pesquisa com bibliotecas e pesquisadores que viajavam mundo afora e lhe enviavam informações, dados, pedras, plantas, manuscritos, espécimes raros etc. Um dos encarregados de enviar informações para sua escola, o Ateneu, era ninguém menos do que Alexandre, O Grande, de quem foi preceptor. Alexandre viajava o mundo derrubando impérios e conquistando territórios e, de sobra, colhia informações para seu amado professor.
Por conta disso corre a lenda, entre historiadores de Filosofia, que Aristóteles foi o último dos homens que conseguiu armazenar na própria cabeça todas as informações produzidas pela humanidade até seu tempo. Duvido, mas é a lenda. Creio que já no tempo de Aristóteles acumular num só cérebro, por mais privilegiado que fosse, todo o saber produzido até então seria impossível. Mas valha a lenda.
Na verdade, lembro tudo isso para falar rapidamente de uma de suas obras, a curiosa História dos animais. Nela, lá pelas tantas, ele fala dos ratos, para vocês verem como esses bichos são antigos. E diz coisas que os brasileiros, depois do tumulto na CPI da Petrobrás, precisam levar em conta.
Vejamos.
Diz Aristóteles que “a fecundidade dos ratos, é a mais extraordinária em todo o reino animal.” O que seria confirmado “pela história de que uma fêmea, fechada num contentor de milho, tenha podido gerar em pouco tempo uma ninhada superior a cento e vinte ratos”.
Não é de surpreender que eles existam não só em todo o território nacional como, e de forma endêmica, na capital do país. Motivo pelo qual não entendo a surpresa escandalizada dos parlamentares que só faltaram subir no assento das poltronas.
Por qual razão Brasília escaparia da rataria, não é mesmo?
Mas continua Aristóteles: “A capacidade roedora que têm é de tal modo rápida que alguns agricultores, que não possuem grandes propriedades, depois de verificarem, num certo dia, que é tempo de ceifar, quando no dia seguinte, logo de manhã, trazem os ceifeiros, vão encontrar toda a seara devorada".
E conclui indicando que certos ratos têm “um pelo rijo, como os picos de um ouriço. São de um tipo que se reproduz em grande quantidade. Mas há ainda muitas outras variedades de rato”.
Devo admitir que Aristóteles, sapiente como era, escreveu a última frase com uma pitada de ironia. De fato, há uma imensa variedade de ratos.