quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Futebol e a Teologia da Grana e do Marqueting




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Confesso que ando preocupado com o Todo-Poderoso. Afinal, estará condenado a desaparecer ou se tornará cada vez mais presente?
Como se sabe, Nietzsche decretou no final do século XIX, numa tirada fulminante: “Deus está morto. Assinado, Nietzsche”. O fato é que anos depois o próprio Nietzsche faleceu e alguém escreveu: “Nietzsche está morto, assinado Deus”.
Questão controversa, portanto. Mas, a julgar pelos adeptos que ambos – Deus e Nietzsche – deixaram, talvez a divindade esteja ganhando a parada, já que aumenta o número de igrejas, justo dessas que fazem de Deus uma espécie universal de CEO – Chief Executive Officer em inglês – seria o nosso Diretor Executivo, um administrador de contas bancárias, salários, dividendos, além de curador de todos os males físicos e psíquicos. Todos falam Dele como de alguém que vigia os humanos, distribuindo graças e benesses, bastando para tal que o fiel preencha um boleto e faça o depósito bancário devido.
Mas, se não bastassem as multidões de fiéis que exigem graças imediatas a Deus e que fazem filas para anunciar que foram atendidas – a dor de cabeça passou, o cunhado arranjou emprego, a úlcera sumiu etc. – entre os jogadores de futebol há uma concentração imensa de novos crentes.
Deus passa a ser, então, um supervisor de futebol, um técnico e, mais ainda, alguém que determina quem ganha e quem perde. O goleiro da seleção – Weverton – deu declarações emocionadas pela bela defesa de pênalti que fez no jogo final das Olimpíadas. Mas ele mesmo atribuiu seu sucesso não aos treinos, nem a seu treinador de goleiros ou à sua experiência e talento de jogador. Quem fez com que defendesse o gol foi Deus, que o consagrou.
Eu fico pensando: que estranha ideia de Deus. Estará Ele vigilante para entrar em campo e, súbito – embora seja deus de todos os seres humanos – projetar o goleiro na direção da bola e fazer com que defenda um gol? Deus será a favor do Brasil? Será então contra a Alemanha? Mas onde estava Deus quando levamos aquele humilhante sete a um? E quem disse que Deus está do lado dos vitoriosos? Sei não. Ele não salvou seu filho da morte na cruz. Paulo, o apóstolo, foi decapitado e, Pedro, crucificado de cabeça para baixo. Milhões de cristãos sofreram em catacumbas para defender suas crenças e foram mortos, perseguidos, jogados aos leões nas arenas de Roma.
Então, essa ideia de um Deus executivo de alto nível me parece ridícula. Prefiro o Deus de São Francisco, por exemplo.
E tem mais. Neymar, esse narciso dos gramados, apareceu no estádio onde se disputava a final do vôlei com uma faixa na testa na qual se lia: “100% Jesus”.
Mas que ninguém se iluda. Embora Jesus tenha pregado o amor, a paz, a compreensão, a humildade, o perdão, o Neymar, entre outras boçalidades, avançou na direção de torcedores e, dizendo-se injustiçado pelas críticas, ameaçou distribuir bofetões em desafetos.
É verdade que estava rodeado por uma dúzia de seguranças, não exatamente por Jesus, e é duvidoso que tivesse tanta coragem caso os seguranças não estivessem ali.
É indiscutível que Neymar tem um grande talento com a bola, mas não passa de um menino imaturo, mimado em excesso, um tipo de cabeça e coração vazios. Usa o nome de Jesus, mas de fato tem um comportamento de publicano. Imagina que Jesus é um administrador de suas contas bancárias e de seus passes.
Por isso, não suporta críticas. Aliás, é de se perguntar: criticar é proibido? É óbvio que a seleção jogou extremamente mal nos primeiros jogos.
Eis aí um caso complicado. Não sei o que Nietzsche pensaria disso. Talvez fosse a uma igreja e dissesse a Deus: o Senhor, embora ainda esteja vivo, está muito mal acompanhado. Ou talvez não desse importância alguma aos que usam o nome de Deus não apenas em vão, mas em seu próprio benefício, seja financeiro, profissional ou de marqueting.
Eu, que nem sei se creio em Deus – embora espere que Ele acredite em mim – penso que o Todo Poderoso deve andar tiririca com esses tipos. Se um dia os encontrar nos espaços celestiais, acho que vão sobrar puxões de orelha pra todo lado.




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