segunda-feira, 14 de novembro de 2016

O poema de Antonio Machado - Caminante no hay camino




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Proverbios y cantares (XXIX)(*)



Todo pasa y todo queda,
pero lo nuestro es pasar,
pasar haciendo caminos,
caminos sobre el mar.

Nunca persequí la gloria,
ni dejar en la memoria
de los hombres mi canción;
yo amo los mundos sutiles,
ingrávidos y gentiles,
como pompas de jabón.

Me gusta verlos pintarse
de sol y grana, volar
bajo el cielo azul, temblar
súbitamente y quebrarse…

Nunca perseguí la gloria.

Caminante, son tus huellas
el camino y nada más;
caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.

Al andar se hace camino
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.

Caminante no hay camino
sino estelas en la mar…

Hace algún tiempo en ese lugar
donde hoy los bosques se visten de espinos
se oyó la voz de un poeta gritar
“Caminante no hay camino,
se hace camino al andar…”

Golpe a golpe, verso a verso…

Murió el poeta lejos del hogar.
Le cubre el polvo de un país vecino.
Al alejarse le vieron llorar.
“Caminante no hay camino,
se hace camino al andar…”

Golpe a golpe, verso a verso…

Cuando el jilguero no puede cantar.
Cuando el poeta es un peregrino,
cuando de nada nos sirve rezar.
“Caminante no hay camino,
se hace camino al andar…”

Golpe a golpe, verso a verso.




(*)Normalmente se publica apenas uma estrofe desse poema que faz parte dos Proverbios y cantares. Por isso me pareceu importante divulgar toda a passagem que tornou célebre os versos sobre nossos "caminos".

domingo, 6 de novembro de 2016

Curitiba – a descoberta do frio




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Mais tarde eu entenderia que há um grande número de coisas que só se aprende em Curitiba. A primeira delas foi conviver com o frio.
Eu vinha de Blumenau, cidade quente, tocaiada no meio de um vale onde o sol parecia eterno. Ao chegar a Curitiba encontrei um frio miserável. Além disso, havia a neblina. E o vento. O vento era o pior.
Fui morar numa pensão na Carlos de Carvalho.
Mas devo falar do frio, que para mim não existia. Cheguei em março. Para meu espanto, chovia e fazia frio. E havia neblina e ventava. Vim com as roupas que tinha e saí em busca do que fazer naquela cidade que eu visitara anos antes e que fora para mim um assombro: bares, muitos cinemas, livrarias, boates com strip-tease, mulheres muito dadivosas.
Mas eu vivia na maior solidão, o nariz enfiado em livros e jornais, discutindo com meu colega de quarto como sairíamos da quartelada militar em que fôramos metidos. De um lado, os milicos, do outro, o frio.
A primeira descoberta: o frio não era algo externo. O frio não estava fora de nossos corpos. O frio saltava para dentro de nós, vinha residir em nossos ossos. Primeiro ele gelava as canelas, em seguida fazia com que arcássemos os ombros a ponto de sentir dores musculares. Só me restava tremer.
Arranjei emprego no escritório de uma firma que distribuía açúcar e, depois, no escritório de um engenheiro estupidamente grosso, que nos enchia o saco, o meu e o de um pernambucano que trabalhava na outra mesa de desenho. Para espantar o frio, nosso esporte era planejar como jogaríamos o tal engenheiro do alto do edifício Asa.
Esse estado de calamidade friorenta durou uns três meses. Foi quando afinal me ocorreu nova compreensão do clima da cidade. Trouxera uma maleta com camisas de manga curta, calças de tergal, meias comuns e sapato. Em Blumenau jamais precisara mais do que isso. Deu-se então uma enorme iluminação na minha pobre cabeça: havendo frio era preciso se agasalhar, coisa que ainda não me ocorrera.
Só então percebi que os curitibanos andavam encapotados, alguns com cachecol, outros com blusas de lã por cima de camisas de tecido grosso. Achei estranhíssimo. Não seria um exagero? Até então me parecia que, havendo frio, de qualquer grau que fosse, bastaria me habituar a ele.
Estava enganado. Levei dois meses para me convencer de que precisava providenciar um estoque de blusas e casacos, meias de lã, gorro, cachecol e algo que me deixou estarrecido: era preciso usar ceroulas, me diziam. Ceroulas?! Mas ceroulas era coisa de um tempo antiquíssimo, que só vira em comédias do cinema mudo, nas quais sempre havia um tipo ridículo que saltava da cama usando ceroulas.
Resisti. Mas fui obrigado a me render. Comprei ceroulas.
Esse arsenal termodinâmico amenizou meu sofrimento, mas o frio continuava mergulhando para dentro do meu corpo, enregelando meus ossos. O frio residia dentro de mim. E, embora não soubesse, essa era apenas a primeira das lições que aprenderia com Curitiba. Haveria outras, tão ou mais enregelantes.