sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

A última de Lula, o farsante


No último dia de mandato, no último dia do ano, Lula, o farsante, aproveitou o apagar das luzes para não nos surpreender. Recusou a extradição de Cesare Battisti para a Itália, país no qual, em tempos de absoluta normalidade democrática, esse sujeito matou quatro cidadãos, tendo sido julgado e condenado conforme prevê a lei italiana.
Decidindo contra a justiça e o bom senso, afagando e afetando um esquerdismo oportunista, quem nega a extradição de um assassino julgado e condenado pelas leis de um país democrático, é o mesmo Lula de sempre. O mesmo que estava ao lado de Fidel quando um preso político morreu em greve de fome – Lula não deu um pio. O mesmo que afagou o afegão Armadinejad, certamente um grande vulto democrático que deve ser defendido. O mesmo que venera o histriônico Chaves com cujas vestes vermelhas e ridículas vestiu sua sucessora. O mesmo. O que disse nada saber. O que disse que uma coisa é estar no poder e outra na oposição. O mesmo que queria o terceiro mandato contra tudo e contra todos. O mesmo que tem pela democracia um desprezo absoluto, a não ser quando ela se presta a seus desejos. O mesmo que, ontem, disse que se divertia ao ver os países da Europa e os EUA em dificuldades.
Lula, o que não surpreende. O mais assombroso e rasteiro oportunista na história desse país.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Lula chora e vai embora.


Assistimos ao espetáculo patético de um presidente da república que choraminga país afora porque seu mandato chegou ao final. Não é sem razão. É o mesmo personagem que fez várias manobras apostando num terceiro mandato. O mesmo que enfiou goela abaixo do PT e da nação uma sucessora – que veio do nada e chegou aonde chegou – e que poderá lhe ceder a cadeira em 2014. O mesmo que disse há poucos dias que gostaria de receber uma herança bendita de um governante como ele próprio. Enfim, um megalomaníaco estufado – física e psicologicamente – com o próprio ego transbordante. O inventor da frase segundo a qual “nunca antes na história desse país” etc., frase, aliás, que se baseia na mais completa ignorância da história do tal país. Mas, como Lula não é o único ignorante da nação, ele diz o que bem entende e oitenta e tantos por cento da população aplaude e pede bis.
Repito: como disse Gonzaguinha, “vocês merecem”.

sábado, 25 de dezembro de 2010

Telefonar faz mal à saúde?


Uma senhora americana, doutora por alguma universidade daquelas redondezas e dirigente de uma Ong, anda fazendo campanha para que não se use celulares. Dá câncer, diz ela. Diminui pela metade a produção de espermatozoides. Terá ela alguma prova disso? Confessa que não tem. Suspeito que não fez nenhuma contagem da taxa de espermatozoides, mas fica indignada quando lhe pedem provas; diz que é preciso agir de imediato e não esperar provas para agir quando já for tarde demais.
Que maravilha de lógica, não é mesmo? Professora universitária. Doutora.
Pois eu fiquei aqui matutando a respeito de outros alarmismos semelhantes a essa advertência da professora.
O amigo leitor já fez um levantamento de quanta coisa já foi acusada de ser fatal para a nossa saúde? O Jamil Snege se atormentava com essa questão e, diante do volume de coisas maléficas a nossa volta – todas deliciosas, aliás – acabou chegando à conclusão de que “viver faz mal à saúde”. Conclusão irretocável. Aos mortos pouco importa a qualidade dos alimentos, o mal causado pelos agrotóxicos, o fumo ativo ou passivo, os celulares. Os problemas só aparecem quando se trata de quem está vivo. Quem está vivo é que é o problema.
Foi aí que me lembrei do tomate. Já foi crucificado como a pior praga gerada pela lavoura. Acusavam os japoneses de terem entupido os tomates com antifungicidas, venenos, defensivos etc., pois, era dito, só isso explicaria que os tomates ainda existissem. Deixados a si mesmos, teriam sumido há muitas décadas. Seriam resíduos pré-históricos capazes de gerar tantas e tais doenças que nem era bom pensar. Bombas recheadas de veneno, assim eram vistos os tomates.
Pois não é que eles se recuperaram? Japoneses e não japoneses continuaram a produzir tomates, a turma não deixou de comê-los, hoje já existem tomates com grife de orgânicos. Foram vencidas as pragas, as calúnias, os medos. E mais: descobriu-se que o tomate faz bem à saúde, tendo várias virtudes, entre elas a de prevenir câncer, em particular o de próstata. Dizem ser rico em licopeno, vitaminas, fósforo, potássio.
Não é pouco para quem esteve à beira de uma condenação capital.
Outra praga era o café. Um mal medonho, causador de azia, má digestão e úlcera. Produzia nervosismo, taquicardia, insônia. Campanhas foram disparadas, o café cambaleava e muita gente passou a evitá-lo e a falar mal dele. Os que tinham úlcera lamentavam serem obrigados a evitar um simples cafezinho.
Eis que se descobre não apenas que o café não tinha nada com isso, mas também que a úlcera não é causada pelo cafezinho. Antes mesmo que o café estivesse à mingua, ele voltou a ser saudado como aquilo que sempre foi: um prazer inigualável, uma bebida digna dos deuses. E mais: quem passou a ocupar o papel de vilão foi o açúcar – ele faria mal, não o café.
Hoje, o café deixou de ser uma espécie de primo pobre entre as bebidas e é servido e cultivado por baristas, passado em máquinas sofisticadas, tendo uma variedade enorme de tipos e de qualidades. O que não impede que, na maioria dos casos, o café servido no Brasil seja da pior qualidade, sem contar o hábito pavoroso de ser servido já adoçado.
A única ameaça atual ao café, a meu ver, é o surgimento de especialistas equivalentes aos sommeliers. Com seus discursos complicados, os conhecedores são capazes de nos desanimar diante do simples ato de beber um bom vinho ou um bom café.
Agora, essa senhora ataca os celulares. Confesso que não sei se ela tem ou não razão. Eu, que não gosto de telefones, fixos ou móveis, só aderi ao celular há poucas semanas, depois que uma falha no meu carro me deixou às três da madrugada numa rua deserta e sem ter como chamar socorro. Comprei um celular para uso exclusivo em emergência, cujo número não revelo nem sob tortura.
Mas, apesar de minha bronca com telefones em geral, fico pensando se dentro de alguns anos não serão descobertos os benefícios dos celulares.
Baseado no caso do tomate e do café, defendo, profeticamente, que o celular não faz mal algum à saúde. Saúde física, acrescento. À saúde mental, que me perdoem os adeptos, faz um mal danado.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Decálogo da República Brasileira


1 – Estão burlando a “Lei da Ficha Limpa” na maior cara de pau.  Já livraram a cara dos Garotinhos (ele e ela) e estão livrando o notório Paulo Maluf. Logo, logo, todos estarão limpinhos. De cara limpa.
2 – Lula, fazendo seus habituais gestos afetados diante dos microfones, já armou a cilada: CPMF deve voltar; dona Dilma, na moita, manobra nessa direção. Como disse Gonzaguinha: “Vocês merecem".
3 – 60% de aumento para os deputados;  qual foi o aumento que v., prezado leitor, recebeu nessa virada de ano?
4 – Na plateia, o processado chefe do mensalão, José Dirceu, afinal se mostrando em público. Na mesa, o futuro homem forte do governo Dilma, Palocci, processado por violar sigilo bancário daquele  jardineiro. Também na mesa, o dublê de mordomo Michel Temer, o vice, que faz de conta que não manda na maioria dos ministérios. Modesta profissional quando lhe convém, a senadora Marina Silva, anotava coisas num papelzinho – tímida, silenciosa, sabe-se lá no que ela pensa ou acredita.
5 - Ao microfone, Lula explicou que quando falava em “nunca antes na história desse país etc. etc.” não queria dizer que estava inventando o Brasil. Mas que “fez o que os outros não fizeram”. Lá isso é verdade. Melhor se tivesse reinventado o Brasil.
5 - Na despedida, Lula cometeu o óbvio ato falho do sonho do terceiro mandato, na direção do qual manobrou nos últimos quatro anos. Ele confessou “como eu gostaria de ter herdado um país para governar depois do presidente Lula”. E não herdou? Freud não falha.
6 – Diz Lula que não interferiu na escolha do ministério Dilma. Acreditamos. Também acreditamos que ele não sabia de nada, que não houve mensalão etc. etc. Nós acreditamos em tudo. Ao menos aqueles  oitenta e tantos por centos dos brasileiros que batem palma e pedem bis.
7 – O delírio de grandeza de Lula não se refere apenas a ele próprio. Trata-se de um delirante paranoico coletivo ao afirmar “que duvida que qualquer governante do mundo tenha um vice como eu tive”. Lula, como se sabe, conhece todos os governantes do mundo de todos os tempos e seus respectivos vices.
8 – O Franklin Martins, ministro da Comunicação de Lula, saudou a “tremenda presidente” que fará um “tremendo governo”. Além de sofrer com a pobreza estilística, o ministro me deixou  trêmulo diante da nova invenção do Brasil que se anuncia.
9 - Na mesma batida, Jacques Wagner, governador da Bahia, alegou que Lula transformou oito anos em oitenta.  Do ponto de vista de quem aguardava com ansiedade o final desse governo, até que concordo.
10 – Como diz Hélio Fernandes: “Que República!”

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Brinde de fim de ano: Millôr Fernandes


Primeiro brinde: um dos poemetos do Millôr; é de 1949:

ODE A UM QUASE CALVO

Ontem, hoje
e amanhã
o homem o cabelo parte
parte o cabelo com arte
até que o cabelo parte.


Segundo brinde, essa frase do mesmo ano:

“A pedra, que no papel nem serve para desenhar uma reta,
dentro d’água faz círculos perfeitos.”


A mentira sempre governou e escreveu a história


A presidente eleita anda declarando por aí que receberá de seu antecessor uma “herança benigna”. A expressão faz menção àquela de Lula, que disse ter recebido uma “herança maldita” de FHC.
Como durante todo o governo FHC publiquei críticas contundentes a seus desacertos, me sinto à vontade para esclarecer o seguinte. Naqueles oito anos, apesar dos absurdos políticos e administrativos e das bandalheiras que envolveram as privatizações, o país foi arrumado financeiramente pelo Plano Real, do que Lula se beneficiou, motivo pelo qual só fez repetir a política financeira e econômica de FHC.
Falar em “herança maldita” é um chavão eleitoreiro e populista, assim como trombetear a respeito de uma “herança benigna”. Insistir nessa crítica é demonstração de que os Lulistas – informo aos desavisados: não existe mais PT, existe Lulismo – não apenas estão escrevendo mal a história do Brasil; também estão ensinando erradamente o que ocorreu na história do país. Um mínimo de honestidade intelectual exigiria que tratassem os oito anos de FHC com seriedade e não com demagogia barata. Deveriam apontar seus gravíssimos erros – que não foram poucos – e reconhecer seus acertos.
Mas, como políticos brasileiros não são sérios, Dilma e Lula jamais abrirão mão da molecagem politiqueira em favor da análise histórica.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Não estranhem os estrangeirismos


Com alguma regularidade, volta-se a discutir o que pensar a respeito do uso de palavras estrangeiras na língua portuguesa. Há mesmo um deputado com um projeto maluco pretendendo proibir estrangeirismos – a febre legislativa dessa gente é indomável.
O curioso é que a questão é apresentada como se fosse nova, algo que só atualmente, com a informática, os filmes americanos, a música pop, a linguagem dos técnicos em administração e economia, estivesse acontecendo.
Aí começa o equívoco, que acaba levando de arrasto uma série de discussões que se transformam num show (olha o estrangeirismo!) de desencontros. Basta uma olhada nas palavras que usamos para descobrir, com uma grande frequência, a intromissão de vocábulos de outras línguas. Coisa que não é nova.
Uma primeira coleção de palavras ingressou no português vindas dos idiomas indígenas, talvez mais do que suspeitamos. Vejam só: o saboroso guaraná, a inocente paçoca, o Maracanã, a afoita perereca, etc. Sem falar no magnífico urubu. Além disso, nomes de lugares e de pessoas.
A seguir, palavras que vieram de línguas africanas. Começa pelo samba, a senzala, a batucada, o bafafá. E o esporte nacional, o fuxico. O quiabo e o dendê. Como contar a história do Brasil sem falar em cangaço e da música popular sem falar em berimbau? E a bagunça política? O menino pode ser guri ou moleque. O cachimbo, o macaco e a quitanda. E há a onipresente e imbatível - no bom sentido - bunda.
Todo esse vocabulário já está incorporado definitivamente ao falar e escrever brasileiro, embora exista quem pense que tais palavras sejam portuguesas. Então, viria a pergunta: o que faremos com tais palavras, caso nos obstinarmos a espantar todo estrangeirismo?
Mas não é só. Antes do inglês, através dos dois impérios recentes – Grã-Bretanha e EUA – o francês era bastante falado no Brasil (não por todas as classes, como é óbvio) e deixou pelo caminho muitas palavras e expressões que incorporamos há muitas décadas, na verdade há mais de um século. Lá vai: maiô, complô, batom, tricô, sutiã, guichê, metrô, vanguarda. E o indispensável garçom. Eu passei a infância chamando armário ou prateleira de etagér (étagère).
Depois veio o inglês, que tanta preocupação desperta nos puristas. Mas não é raro esquecermos contribuições, não desprezíveis, vindas das línguas faladas por imigrantes italianos, espanhóis, alemães etc. Influência, como todas as outras, que se dá não apenas no vocabulário, mas no próprio modo de produzir frases e expressões. Penso especialmente no italiano, de grande presença no linguajar popular brasileiro, mas também no texto literário, sobretudo de escritores paulistas, gaúchos, paranaenses e catarinenses. De Adoniran Barbosa a Sérgio Faraco, o italiano está sempre presente. De minha parte, lembro que usei vocábulos e formas de expressão com influência italiana quando escrevi o romance Os dias do demônio, que se passa no sudoeste do Paraná.
Essa falsa polêmica contra os estrangeirismos ignora o que ocorreu com a língua portuguesa quando veio ela própria transplantada para o Brasil. E é interessante lembrar que o “perigo” dos estrangeirismos é relativo e muito exagerado. Assim como certas palavras ou expressões foram incorporadas, outras sumiram depois de um sucesso momentâneo. Há algumas décadas, tudo que era grande, importante, admirável, marcante, era chamado de big – pois é, sumiu. Calça feminina, comprida, era chamada de eslaque (do inglês, slake) – hoje pode parecer ofensa.
O uso assimila ou rejeita certas modas. É tudo. E isso só faz enriquecer a língua. A língua que hoje falamos ou escrevemos, está muito longe daquela falada pelos primeiros portugueses que vieram para o Brasil, e também está distante da língua que se fala hoje em Portugal. Enfim, a língua é algo vivo, dinâmico, mutante e, como todo organismo vivo, assimila, rejeita ou transforma, conforme as circunstâncias, aquilo com que entra em contato.
Enfim, alguma paciência e certa dose de antropofagia, como queria Oswald de Andrade, poderiam colocar ordem nessa polêmica inútil.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Drummond de Andrade aos olhos da menina Maria Julieta

Essa raridade foi publicada pelo jornal O Trem Itabirano, do qual falei dia desses. Reproduzo aqui para dividir com todos a beleza que os olhos de uma criança podem nos proporcionar quando retratam o próprio pai.


quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Moacir Santos, música quase absoluta


Quem me ensinou a gostar de Moacir Santos foi meu filho, João Marcelo. Garanto existirem poucas coisas mais prazerosas do que aquelas que aprendemos com nossos filhos.
Então aluno de música, ele passou a pesquisar com obstinação a obra de Moacir. Encontrou LPs raros, CDs, coisas baixadas pela internet, MP3s, livros, artigos, teses etc. De tudo isso, resultou sua dissertação de mestrado e um show em homenagem a Moacir (Teatros Guaíra, 2006, SESC e Guairinha, 2007), do qual participou tocando contrabaixo acústico (entre nós conhecido como Baixo Gordão).
Até então eu sabia do criador de “Coisas” apenas aquilo que todos de minha geração ouviram no Samba da Benção, de Baden Powell e Vinicius de Moraes, quando o poetinha pede: “a benção Moacir Santos, tu que não és um, és tantos, como este meu Brasil de todos os santos”.
Aprendi não só a ouvir Moacir, mas fiquei sabendo que nascera na pequena cidade de Flores, Pernambuco, em 1926. Órfão, saiu pelo mundo, realizando um destino com o qual todos sonhamos quando meninos: fugir com um circo. Tocou em bandas, aprendeu todos os instrumentos, escolheu o saxofone, veio para o Rio, foi assistente de Koellreuter e professor de toda a turma da Bossa Nova. Fez música para cinema – Canga Zumba, entre outros – e foi para os EUA em 1967.
Conhecedor de música clássica – onde as composições são chamadas de Opus 1, Opus 2 etc. – resolveu denominar suas obras assim: Coisas 1, Coisas 2 etc. Daí o nome de seu disco mais famoso, recheado de obras-primas: Coisas. Como bom brasileiro, herdou e assimilou a herança clássica européia e a transformou numa música da melhor qualidade, mesclando influências da música brasileira, africana, caribenha.
Um gênio, enfim.
Moacir só voltou ao Brasil já idoso, quando recebeu homenagem organizada por Mário Adnet e Zé Nogueira, com um show e a gravação de Ouro Negro. Faleceu uma semana após completar 80 anos.
Por isso escrevo essas coisas como agradecimento a meu filho e a Moacir Santos. E convido a todos: ouçam Moacir, é puro deleite, é quase divino.