sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Donadon, presidiário e deputado federal




Quando a gente imagina que chegou ao fundo do poço, eis que os senhores deputados federais nos surpreendem. O limite da falta de vergonha na cara não foi alcançado ainda.
Há alguns anos venho repetindo – e hoje repito mais uma vez – que somos governados por delinquentes.
As evidências são óbvias.
Por um lado eles usam de todos os truques sujos para se eleger, valendo conchavos, caixa dois, grana de empreiteiras, mentiras deslavadas, promessas cínicas, adulação dos pobres e oprimidos, comer pastel em feira e buchada no nordeste.  
Uma vez eleitos, eles sobem nas tamancas, como se dizia antanho e alhures, e do alto de seus cargos passam a agir com uma voracidade de ave de rapina: verbas, comissões, toma lá da cá, mudança de partido, declarar que fez o que não fez e que não fez o que fez, trabalhar dois dias por semana, aumentar os próprios salários e desprezar o populacho e suas opiniões como uma Maria Antonieta mandando o povo comer brioches.
Enfim, quando pegos com a mão na cumbuca, declarar que não sabiam de nada, que irão tomar providências, que tudo não passa de intriga política, assumir caras e bocas de indignados diante das acusações e jurar que são uns santos homens.
Agora, o caso do deputado Natan Donadon (PMDB-RO), essa triste figura. Cometeu seus “malfeitos” – segundo o eufemismo gentil da senhora presidente Dilma – há mais de treze anos, sofreu longo processo e afinal o STF resolveu condená-lo. Pois, como todos sabem, a câmara decidiu não cassar seu mandato. Em votação secreta, é claro. 233 votos a favor, 131 contra e 41 abstenções.
Cria-se então essa situação absurda: o tal Donadon está preso na Papuda (belo nome para o endereço dele) em Brasília desde o dia 28 de junho, condenado em última instância pelo desvio de R$ 8,4 milhões da Assembleia de Rondônia, quando era diretor financeiro da instituição. Lembremos que ele foi denunciado em 1999, há mais de 13 anos, portanto.
Temos então um deputado que segue no gozo de seu mandato morando no presídio da Papuda. Um deputado preso ou um presidiário deputado federal. A única coisa em sua defesa poderia ser o fato de que não é o único que mereceria estar atrás das grades.
Ele é no momento o símbolo – já tivemos outros – de que o espírito quadrilheiro, o corporativismo digno da omertà dos gangsters, não dá a menor importância àquilo que se tem chamado de “vozes das ruas”.
Fico estarrecido – mas não surpreso, notem bem – pelo fato de que esses políticos se escondam por detrás do “voto secreto” para cometer esse desatino. Afinal, se o tal voto é secreto individualmente, é público coletivamente. Todos sabemos das manobras e do cinismo que tal votação evidencia. Portanto, não há segredo algum.
Eis o que pode nos levar a sentir nojo da atividade política.
Mas precisamos lembrar que foi por uma tática de desmoralização da política que ditadores se perpetuaram mundo afora, sendo um exemplo o caso de Francisco Franco, na Espanha, que infelicitou seu país de 1939 a 1975, quando resolveu morrer. Portanto, devemos insistir. Melhor uma democracia cheia de donadons do que um governo ditatorial nas mãos de um garrastazu qualquer.
Mas cansa. Desde criança – sendo meu pai jornalista – ouço falar em reforma agrária, em injustiça social, em níveis de pobreza insuportáveis, em bandalheiras palacianas. E, sempre, ouço alguém declarando que seriam tomadas providências enérgicas.
Quando?
Talvez quando nenhum de nós ficar em casa e todos formos para as ruas com as armas que estiverem a nosso alcance.
Conseguiremos fazer isso? Precisaremos fazer isso?
Eis onde reside o mais miserável fruto do crime desses delinquentes: a corrupção criada por eles não se liga apenas ao roubo de dinheiro público. São corruptos, antes de mais nada, porque corrompem nossas esperanças em um país correto, justo e gerido segundo os desejos de uma população que seja ética e politicamente esclarecida e exigente.



quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Um poema de Ferreira Gullar





TRADUZIR-SE

Ferreira Gullar

Uma parte de mim
é todo mundo;
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera;
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta;
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente;
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem;
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
– que é uma questão
de vida ou morte –
        será arte?




quarta-feira, 14 de agosto de 2013

O rato que ruge (Ou: a patriotada do ministro Patriota)






Quem não viu esse filme, O rato que ruge, deve buscá-lo com urgência nas locadoras. Trata-se de uma hilariante comédia britânica dirigida por Jack Arnold, lançada em 1959. No elenco, Peter Sellers dá mais um de seus shows de interpretação, no caso, atuando em três papéis, um deles feminino, o da Grande Duquesa Gloriana XII. Também atuam Jean Seberg – belíssima – além de William Hartnell, David Kossoff e McKern, entre outros. A sinopse poderia ser mais ou menos a seguinte: um minúsculo país declara guerra aos EUA na esperança de, sendo derrotado, receber posterior ajuda financeira, com o que sairia da grave crise financeira em que se encontra. O diabo é que eles ganham a guerra.
Lembrei-me desse filme ao assistir a encenação tosca ocorrida ontem, dia 13 de agosto, em terras tupiniquins, pelo ministro Antônio Patriota (no papel de Dilma Rousseff, imagino) no encontro com o secretário de Estado americano, John Kerry.
Como se sabe, os serviços de espionagem dos EUA foram pegos com a boca na botija a partir da divulgação de papéis secretos pelo norte-americano Edward Snowden.
Agora, John Kerry visita países na tentativa de apagar o incêndio. Encenação, é claro, um modo de afagar as tribos locais. Até aí, tudo é diplomacia.
Ocorre que Dilma, em crise de prestígio, e Patriota, em crise do que fazer, resolveram agigantar o evento e denunciar espionagem por parte dos EUA. Queriam pedidos de desculpas, esclarecimentos e, mais do que isso, uma jura norte-americana garantindo que espionagem nunca mais.
Santa simulação.  É claro que espionar indiscriminadamente uma população é coisa muito feia que país algum deveria fazer. Agora, espionagem entre nações, amigas ou não – embora devamos nos lembrar que países não têm amigos, mas interesses – sempre houve e sempre haverá, o que gerou o comentário lacônico de John Kerry:
- Peço ao povo brasileiro que se concentre nas realidades importantes entre os nossos países, que compartilham valores democráticos e o empenho em favor da diversidade. Essas relações podem ter um impacto global positivo se continuarmos trabalhando em parceria – e completou: os EUA precisam de uma política preventiva. Queremos evitar que isso (ataque terrorista) aconteça. Precisamos saber, de antemão, o que está ocorrendo. Por isso os EUA recolhem inteligência estrangeira.
Ou seja, o Patriota (no papel de Dilma Rousseff, insisto) levou um pito. Mais ou menos assim: menino, preste atenção com o que está lidando.
A delirante paranoia americana, sabemos, enfrenta a não menos delirante paranoia dos terroristas radicais muçulmanos, mas é preciso que governantes brasileiros saibam que negócios e conversas entre países não podem ser conduzidas como se se tratasse de mera oportunidade marqueteira para fazer pose e rugir como o rato do filme acima citado.
É o que acontece quando nossos governantes se imaginam no papel do pranteado Chaves da Venezuela. Deveriam lembrar que Chaves era um tipo engraçado e um comediante amador, nunca um profissional, como Peter Sellers. 






domingo, 11 de agosto de 2013

Ludovico não viu a neve


 


Ludovico nasceu após o ano mítico de 1975, quando nevou. Por isso não viu a neve.
Mas passou a infância e a adolescência ouvindo a família comentar a respeito da neve, aquela neve, aquele ano de 1975, todos cheios de felicidade, como se neve fosse a coisa mais deslumbrante do mundo.
Talvez sofresse de um trauma de infância, pois, quando bem menino, vivia se perguntando por que se falava tanto na neve. E também não sabia o que era aquilo, a neve.
- Ah, quando a neve caiu! dizia o tio Apolônio. Parecia a Europa!
- Ah, o quintal todo branquinho! sonhava a tia Bernadete.
- Ah, o boneco de neve na capota do fuque! - suspirava o primo Lafaiete.
Mas ele não conseguia entender o que era a neve. Imaginava uma chuva mais forte, meio leitosa. Às vezes pensava em pedaços de gelo despencando das nuvens. Era difícil entender o que era a neve.
Alguns anos depois, viu fotos, conversou com o primo Lafaiete, assistiu a uns filminhos fajutos na televisão. Pelotinhas brancas no céu. Conseguiu formar apenas uma imagem sofrível do que seria a tal da neve. Mas, quando montou a primeira banda de rock, se esqueceu do assunto e não mais sofreu com aqueles traumas. O que não impedia que lá uma vez ou outra, naqueles finais de domingo, quando o papo entre os membros da família definhava, que alguém exaltasse aquela neve de 1975. Ah, a neve! Ah, o boneco de neve do capô do fuque!
Ludovico, delicadamente – pois é rapaz educado – saía da sala e ia lá fora com a desculpa de fumar um cigarro. Caia fora.
Assim, Ludovico nasceu e cresceu sob o signo da neve, aquela de 1975.
Em julho passado, porém, levou um susto. Agora não ouviu apenas as exclamações de primos e tios. Agora eram previsões científicas do tempo. Haveria neve. Houve grande agitação na família, marcaram trocar telefonemas. Tia Lucrécia veio especialmente da Lapa para passar uns dias com eles. Ela não dormia há uns vinte e oito anos e se prontificou a ficar de plantão. Houvesse neve, telefonaria para todos os celulares da família, pouco importando a hora.
Ludovico odiava frio, era o que todos sabiam. Frio, repetia, era uma afronta, uma humilhação. Uma falta de respeito com o ser humano. Perguntou ao tio Apolônio qual seria a temperatura.
- Coisa de zero e três graus. Você vai ver a neve, Ludovico!
Três graus era coisa impensável. Quando os termômetros desciam abaixo de 18 graus ele começava a bufar de ódio contra as frentes frias, que, vindas da Argentina, não poderiam ser boa coisa. Por isso, ao ouvir que a neve era para o dia seguinte, telefonou para Guiomar, sua namorada ocasional, juntou um cobertor, uma manta, um aquecedor elétrico, e rumou para o apartamento dela. Comprou vinho – chileno; argentino, jamais – queijos e, de quebra, desligou o celular. Passou três dias trancado no apartamento da namorada, cortinas fechadas.
Quando retornou, foi recebido com agitada fúria. Onde andara?! E a neve? Vira a neve? Tia Lucrécia quase explodira o celular de tanto mandar mensagens!
- Calma, gente. Vi a neve, sim. Branquinha, suave. Uma delícia.
Delícia? Ninguém entendeu.



sábado, 10 de agosto de 2013

Mario Benedetti e o poema Defesa da Alegria


Dos desenhos animados: Mario Benedetti (médio) por Rocksaw marcado mario, Benedetti
Mario Benedetti caricaturado por Rocky Sawyer (Troy, NY)


Despertei, no meio dessa madrugada de 10 de agosto, sem angústia ou medo, ouvindo na rádio Educativa a voz frágil de Mário Benedetti declamando o poema Defesa da Alegria. Foi um bálsamo, que divido com os leitores do blog.
Mario Benedetti (1920-2009) nasceu no Uruguai, (Paso de los Toros). Romancista, contista, poeta, jornalista, ensaista, foi um intelectual que exerceu profunda influência política e literária. Como eram corriqueiros os golpes militares nesse lado do mundo, a partir de 1975, tendo um golpe atingindo o Uruguay, Benedetti circulou pelo mundo em busca de pouso seguro: Argentina, Lima, Cuba, Espanha. Foi assim até 1983, quando retorna a seu país depois do exílio, iniciando o que chamou de desexílio – objeto de algumas de suas obras.
Essa Defesa da alegria representa bem o espírito da poesia de Benedetti. Como curiosidade, vale dizer que ele foi casado durante sessenta anos com sua amada Luz López Alegre.


DEFENSA DE LA ALEGRÍA

Mário Benedetti

Defender la alegría como una trinchera
defenderla del escándalo y la rutina
de la miseria y los miserables
de las ausencias transitorias
y las definitivas

defender la alegría como un principio
defenderla del pasmo y las pesadillas
de los neutrales y de los neutrones
de las dulces infamias
y los graves diagnósticos

defender la alegría como una bandera
defenderla del rayo y la melancolía
de los ingenuos y de los canallas
de la retórica y los paros cardiacos
de las endemias y las academias

defender la alegría como un destino
defenderla del fuego y de los bomberos
de los suicidas y los homicidas
de las vacaciones y del agobio
de la obligación de estar alegres

defender la alegría como una certeza
defenderla del óxido y la roña
de la famosa pátina del tiempo
del relente y del oportunismo
de los proxenetas de la risa


defender la alegría como un derecho
defenderla de dios y del invierno
de las mayúsculas y de la muerte
de los apellidos y las lástimas
del azar
y también de la alegría.




quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Teatro de Walmir Ayala em Porto Alegre


Camilo de Lélis leva ao teatro texto do autor gaúcho Walmir Ayala Vilmar Carvalho/Divulgação
Kaya Rodrigues e Rafael Franskowiak em "O Monstro de Olhos Verdes"Foto: Vilmar Carvalho / Divulgação



Walmir Ayala (1933 - 1991) foi um intelectual múltiplo. Poeta refinado, romancista, contista, autor de literatura infantil de alta qualidade, crítico literário, crítico de artes plásticas e autor teatral, além de outras coisas. Nesse ano de 2013 estaria fazendo oitenta anos se ainda estivesse circulando pelo planeta a inventar novas artes.
Os gaúchos, sobretudo de Porto Alegre, têm a oportunidade de assistir à encenação de seu texto "O Monstro de Olhos Verdes, ou Por Quem Morrem as Pombas?" A direção é de Camilo de Lélis. Os atores: Rafael Franskowiak, Kaya Rodrigues, Leonardo Barison e Renata de Lélis.
O monstro dos olhos verdes do título da peça vem de Shakespeare, que assim definia o ciúme. Falar nisso, esse Shakespeare só acertava na mosca.
Não percam. Walmir Ayala também era bom nisso de acertar na mosca.


O Monstro de Olhos Verdes, ou Por Quem Morrem as Pombas?

De quinta a domingo, até 25 de agosto. Teatro de Câmara Túlio Piva (República, 575), 20 horas. Ingressos: R$ 20. Desconto de 50% para titular e acompanhante do Clube do Assinante, idosos, estudantes e classe artística. Ingressos, na bilheteria, uma hora antes do início da sessão.


segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Dilma e o festival de improvisos politiqueiros





Acho comovente a sucessão de trapalhadas, improvisos, jogadas para a torcida, golpes marqueteiros dessa senhora Dilma e seus associados. Por essa razão deixei o assunto de lado por umas semanas. Para me recuperar.
Mas devo voltar ao assunto. É que eles não mudam.
Como todos lembram, o governo navegava em mares tranquilos até recentemente, com índices favoráveis, notas de júbilo na mídia dando destaque a qualquer viagem, anúncio de verba, inaugurações de obras inacabadas ou outros feitos imaginários da presidente e seus assessores.
Foi quando junho chegou.
As multidões na rua desfizeram, como se fosse um castelo de vento, o ufanismo politiqueiro. Por uns dias, assistimos ao sumiço de todos os governantes de todos os escalões. Baixou um silêncio ensurdecedor nos palácios e nos planaltos. Sumiu a presidente em exercício, junto com o ex-presidente, os governadores e parlamentares. Note-se: os que sumiram eram de todos os partidos, pois a multidão nas ruas não perdoou ninguém.
Momento grave em que o Brasil precisaria de um estadista. Infelizmente, quem nasceu para Odorico Paraguaçu nunca chegará a Abraham Lincoln. Quando voltou a dar o ar de sua graça, a presidente armou um circo – seus 39 ministros e governadores servindo de cenário – e fez uma declaração marqueteira: estava ouvindo as vozes das ruas.
Caso tenha ouvido, não entendeu, me parece. Pretendeu encerrar a questão com três medidas: recursos do pré-sal para a educação, plebiscito para uma reforma política e um programa de importação de médicos.
Deu tudo errado.
O plebiscito não resistiu mais do que três ou quatro dias. Foi massacrado como anticonstitucional e populista.
A grana do pré-sal, que desde Lula é apresentado como uma cornucópia capaz de jorrar dinheiro para todos os orçamentos possíveis, também não prosperou, pois é mera especulação futura.
A importação de médicos revelou-se trapalhada monumental, sem norte, que recebeu justa oposição da classe médica e da parte mais bem informada da população.
As causas são simples.
Em primeiro lugar, não era nada disso que a voz das ruas pedia. Nenhum manifestante pediu plebiscito, médicos estrangeiros ou apenas verbas para a educação.
Plebiscito nesse caso é demagogia. Passa à população a ilusão fantasiosa de que decide os rumos do país. Faltou apresentar uma reforma política que espelhasse o que as ruas pediam.
O sistema educacional carece não apenas de recursos, mas de um projeto educacional capaz de dar rumo à educação e à formação profissional no Brasil. Nada disso foi apresentado.
O sistema de saúde precisa de médicos, sim, mas com formação adequada, que sejam diplomados no país ou tenham revalidados seus diplomas aqui. Além disso, hospitais, equipamentos, laboratórios, equipes de apoio administrativas e médicas etc.
Não se viu nada disso.
E por qual razão? Porque os governantes – todos, de todos os partidos – gastam seu tempo em futricas palacianas, em composições político-partidárias, em contas de chegar, em troca de favores, tudo aquilo que nas ruas foi denunciado. Como nossos governantes fartam-se nessa esbórnia politiqueira, não têm qualquer projeto para a educação, nem para a saúde, nem para uma reforma política.
Por isso, dias depois de anunciado o plebiscito, nunca mais se falou dele. Por isso não se sabe o que será da educação e onde serão aplicados pretendidos recursos. Finalmente, de reforma política não há uma só linha, exceto um projeto no Congresso que, dizem, é a tal emenda pior do que o soneto.
Voltamos à estaca zero. A nau dos insensatos segue seu rumo desastrado. O Brasil, como tenho escrito aqui, continua governado por delinquentes.