sexta-feira, 29 de maio de 2015

Oscar Niemeyer & “A mão esquerda” de Joli Gonzáles



Joli Gonzáles, Mano izquierda alzada, 1942
Oscar Niemeyer, Memorial da América.Latina, 1988.


Sem qualquer implicância com Oscar Niemayer, a quem admiro, devo divulgar que encontrei uma coincidência assombrosa entre uma escultura de Joli Gonzáles e uma obra de Niemeyer.
Joli Gonzáles foi um notável escultor catalão, que revolucionou a escultura em ferro, inclusive em obras de grandes dimensões. Nasceu em Barcelona, 1876, e faleceu em Paris, 1942. Viveu em Paris e foi amigo de Pablo Picasso. É considerado um dos grandes escultores do século XX.
“Mano izquierda alzada”, de 1942 é uma escultura em ferro. A mão espalmada, revoltada e suplicante, mas indignada e inconformada, que reproduzo acima. Tem inclusive uma corrosão que parece escorrer de sua palma.
Já Oscar Niemayer não carece de apresentação. Todos sabemos quem foi e conhecemos, por exemplo, sua escultura de 1988 que se encontra no Memorial da América Latina, em São Paulo. Temos aqui um traçado que lembra o mapa da América Latina escorrendo sangue. Tanto a concepção da mão e de algo que escorre de sua palma têm uma semelhança espantosa com a obra de Joli Gonzáles.
Nesses casos é possível pensar em várias coisas. Uma homenagem ao escultor Joli ou uma espantosa coincidência sempre possível. Ou um plágio.
Homenagem não terá sido, pois Joli não é mencionado em parte alguma, pelo que sei – e admito correções.
Já as coincidências não são raras nas ciências, nas artes e na tecnologia. 
Mas fica uma pulga atrás da orelha. Por acaso Niemayer reteve no inconsciente a mão esquerda de Joli, que de lá saltou quarenta e tantos anos depois?




quarta-feira, 27 de maio de 2015

Mantido o voto obrigatório, reforma política é farsa





Por esses dias o Congresso Nacional se agita na produção de mais um dos seus espetáculos circenses. Agora está na roda a reforma política. Na verdade não será reforma alguma e de política só terá o jogo de conveniências habitual, os acertos malandros no qual todos querem levar vantagem.
Já escrevi sobre essa questão do voto obrigatório várias vezes, mas volto ao assunto sem constrangimento. Não sou eu que me repito; é o país que não sai do lugar.
A meu ver o artigo primeiro de uma reforma política deveria consagrar a extinção sumária do voto obrigatório, pois se trata de uma perversão das mais nefastas à verdadeira ordem democrática. Nas grandes democracias não há obrigação de votar - aliás, quando se fala, na Inglaterra ou na França, que no Brasil o voto é obrigatório, desencadeia-se uma gargalhada geral.
E por que se trata de uma distorção violentíssima?
Obrigar a votar é típico de país autoritário, autocrático, no qual tudo deve ser legislado de cima para baixo. Um país no qual não se acredita nem em liberdade nem em educação nem em cidadania. Fora os iluminados legisladores, considera-se a população um bando de idiotas.
Por outro lado, voto obrigatório abriga uma contradição nos termos.
Voto é um direito conquistado, nas democracias, depois de muitas lutas. Sendo um direito, cabe a cada cidadão decidir se o exerce ou não. Caso contrário, deixa de ser direito, torna-se dever.
Vejamos.
Todos têm direito à vida, mas ninguém pode ser obrigado a viver. Por acaso deveríamos condenar os suicidas à prisão perpétua? Tenho direito de ir e vir, mas posso abrir mão dele e ficar num cantinho com um violão. Tenho direito de casar, constituir família, ter filhos. Mas não posso ser obrigado a isso.
Assim, obrigar a votar é negar o direito de votar.
Ocorre que o Brasil é um país sem espinha dorsal intelectual, o que o condena a não saber lidar com conceitos - e é através de conceitos que pensamos. No Brasil se "pensa" assim:
"O voto é um direito. Portanto, devemos ser obrigados a votar."
Não. Sendo um direito, podemos escolher se votamos ou não.
Ou se "pensa" assim:
"É votando que se aprende a votar. O voto obrigatório é educativo."
Besteira. Nada mais deseducativo do que transformar um direito em dever.
Na verdade, o circo montado em Brasília não vai - note-se: em nenhum dos partidos - propor a sério a instituição do voto facultativo. E a razão é simples: o voto obrigatório é uma forma de se manipular e domesticar currais eleitorais. Somando-se voto obrigatório e bolsa-família, o resultado é o que está diante de todos nós. Por isso, do PT ao PSDB não se fala em voto facultativo a sério.
Eis o óbvio ululante, diria Nelson Rodrigues.
A obrigação gera currais eleitorais, conduz às urnas quem teme levar multa ou ser chateado pela burocracia. Ou leva às urnas quem, pensando ser malandro, coloca seu voto à venda. A venda de votos é decorrência da obrigação de votar. A eleição de picaretas também. Candidatos desonestos compram votos oferecendo dentaduras, cadeiras de rodas, óculos, dinheiro. Um cidadão consciente, que vai votar por convicção, não venderá jamais o seu voto.
Portanto, só aceito participar da discussão que o circo brasiliense está armando se começarmos do seguinte princípio:
“Votar é um direito democrático e o cidadão soberanamente decidirá se o exerce ou não.”
Pronto, votei.






sábado, 9 de maio de 2015

Belo exemplo: jovens fazem faxina em praças públicas.






Um grupo de jovens desenvolve no bairro Jardim das Américas, aqui em Curitiba, um projeto chamado Boa Praça. Uma ideia simples: eles se reúnem e fazem uma faxina, como fizeram com a praça que ladeia a Rua São Tomé, deixada pela prefeitura ao deus-dará.
O grupo é liderado pelo Bruno – cuja profissão é passear com cachorros – e reuniu, no caso dessa praça, cerca de dez jovens, munidos de carrinho de mão, vassouras, rastelo, sacos de lixo, além de dois violões e uma bola de futebol. Começaram a faxina pela manhã e tudo estava limpíssimo ali pelas duas e meia da tarde.
É um belo exemplo, pois toca num ponto sensível das relações da população com os poderes públicos. Normalmente, diante de praças abandonadas, ruas entulhadas de lixo, bandalheiras em geral etc., muitos dão de ombro e julgam que aquilo deveria ser cuidado pelos poderes públicos.
É verdade. Deveria.  Mas nem sempre é assim.
Não raro os chamados poderes públicos são lerdos e ineficazes. Ou omissos. Assim, esse grupo de jovens dá um exemplo e ao mesmo tempo faz uma exigência: que aqueles que são mantidos pelos nossos impostos cumpram sua função.
Mas há outro detalhe, mais significativo: esses jovens agem ao invés de apenas reclamar. E mostram que são capazes de se reunir para uma boa causa. No caso, uma Boa Praça.
O projeto está ligado ao Centro Espírita do Jardim das Américas e tem a coordenação do Bruno, que aparece na foto acima fazendo sinal de positivo. Quem organiza tais ações é um professor da PUC, Daniel Rossi.
Assim, saudações a todos.  Uma bela lição e um bom exemplo.
Que cada organização ou grupo social verifique no seu bairro o que está fora dos eixos e imagine as ações que poderiam realizar. Farão um bom trabalho e darão um puxão de orelhas nos poderes públicos.
Só para dar um fecho divertido e oportuno, lembro uma canção de Elvis Presley: “Little less conversation and little more action”.
Ou seja: menos conversa e mais ação.




segunda-feira, 4 de maio de 2015

PT versus PSDB ou vice versa: a delinquencia política






Há uma frase emblemática que vale para todos os tempos e para todos os partidos desse triste país tropical. Holanda Cavalcanti formulou com perfeição, na época do Império: “Nada há mais parecido com um saquarema do que um luzia no poder”. Ele se referia aos dois partidos que se alternaram no poder durante o Segundo Reinado.
Hoje isso poderia ser atualizado da seguinte maneira: “nada mais parecido com um tucano do que um petista no poder” ou “nada mais parecido com um petista do que um tucano no poder”.
Mas agora o rapaz, Beto Richa, que governa o Paraná quis inovar: foi além das medidas. O ataque orquestrado contra os professores é de uma crueldade absurda. Primeiro porque são cidadãos que estão lutando pelos seus direitos. Segundo por serem professores, que deveriam receber outro tipo de tratamento de um governo que não fosse obstinadamente obtuso. Mas uma coisa é mais notável: a incompetência e a incapacidade do governador em dialogar, negociar, ouvir, conciliar, propor alternativas. Enfim, de governar democraticamente.
Eis o vírus que contamina os governantes no Brasil.
Dilma, por exemplo, enfiou medidas draconianas goela abaixo da nação (para espanto dos dois partidos, PT e PSDB, e de todo o país) a partir do dia seguinte a sua posse. Mentiu ao longo de toda a campanha eleitoral, fantasiando em torno de um país onde não havia inflação, desemprego, problemas de dívidas etc. etc.
Frente ao caos que se instalou, anda escondida em pequenos eventos com públicos amestrados e não se arrisca a colocar os pés na rua. Além disso, não manda em nada. O ministro da Fazenda é o grande timoneiro do momento e os presidentes da Câmara e do Senado dirigem os rumos da nação, enquanto a Polícia Federal e o Ministério Público fazem seu papel em busca de corruptos, o que está além dos poderes do executivo.
Até mesmo do pronunciamento – normalmente chato e rasteiramente populista – do dia 1º. de maio, ela decidiu abrir mão. Não fez nenhum pronunciamento à Nação, que é o que se espera de estadistas em momentos de crises como o atual. Não saudou trabalhadores. Colocou vídeos na Internet, inócuos, o que é recurso ao alcance de qualquer sujeito que tenha um computador.
Richa desgovernou o Paraná, as finanças afundam e lança mão de um truque financeiro para se apossar de recursos que não deveriam estar ao seu alcance. Mas precisa sair do buraco que criou com a colaboração de outros antes dele.
Dilma foi apresentada ao país como durona, mandona e gerentona. Mostrou não ser nada disso: amarelou, se esconde, não manda em nada e se revelou uma gerente catastrófica, vide Petrobrás, que esteve em suas mãos por vários anos. Seu mentor não sabia de nada a respeito do mensalão; ela não sabia de nada a respeito do escândalo na maior empresa brasileira que dirigiu.
Em todos os casos, com esses representantes dos dois partidos que polarizam todas as polêmicas políticas nós estamos realmente muito mal. E ainda temos que ouvir os xingamentos grosseiros que ingênuos de ambos os lados trocam via internet, atitudes dignas das piores torcidas organizadas de futebol.
Que tal estudar um pouco, refletir, e trocar argumentos racionais ao invés de coices?

Entre saquaremas e luzias não há escolha: são gatos do mesmo saco.