Rua Paula Gomes,325, São Francisco, Curitiba |
Vi
na internet uma imagem que me pareceu assombrosa. Foi parcialmente incendiada
uma casa na rua Paula Gomes, 325, aqui em Curitiba, no domingo passado. Nessa
construção funcionou até 2012 a Casa de Portugal. Hoje é
de propriedade da Prefeitura Municipal, que a abandonou. Foi então invadida por
moradores de rua. Agora, sofre um incêndio.
Essa
história já se repetiu inúmeras vezes.
Precisaríamos
encontrar uma maneira de responsabilizar a Prefeitura por ter deixado essa e
tantas outras casas do centro de Curitiba, muitas centenárias, ao abandono. Não
vale culpar moradores de rua ou drogados. O culpado pela destruição e pelo
incêndio é, em última análise, o prefeito, juntamente com o encarregado pelo
patrimônio, que não sei quem é.
Em
países que respeitam e cultivam sua própria história, construções são preservadas,
há leis a respeito e vigilância permanente. O proprietário não pode deixa-las
ao abandono – se fizer isso e houver um incêndio, ele é criminalmente
responsabilizado, pois, além de abandonar um patrimônio, coloca em risco as
construções em volta.
Um
amigo meu mora em Paris num prédio do século XVII. Há regras rígidas para
reformas, conservação, uso – e que ninguém pense que, derrubando o prédio
antigo, poderá erguer no local um caixote de cimento qualquer. Terá que refazer
a edificação.
Isso
em países civilizados, onde vivem pessoas civilizadas, o que inclui prefeitos e
administradores.
Uma
das desgraças do Brasil é que ninguém é responsável – ou seja, ninguém responde
pelo que acontece com bens públicos. Ser um bem público, nesse país, significa ser
de ninguém. Pode ser abandonado, destruído, incendiado. Ninguém pagará por isso.
A
falta de respeito pelas coisas públicas, unida ao desprezo pela história da
cidade, faz com que o passado arquitetônico seja consumido e apodreça a vista
de todos.
Um
grupo no Facebook, Memória de Curitiba, está colocando na rede fotos e
informações a respeito da história da cidade. É louvável. Mas, diante do
descaso das chamadas “autoridades”, trata-se de um esforço quixotesco. Alguns
buscam registrar a história e outros se encarregam de destruí-la, justo os que
deveriam preservá-la. Perdemos todos.
Será
que tudo isso acontece por acidente? Por simples esquecimento? Por falta de
pessoal ou de verba? Faltará a tal “vontade política” da qual costumam falar
políticos e administradores? Ou trata-se de uma destruição calculada que busca
abrir espaço para prédios monstrengos que enfeiam as ruas, a cidade e machucam
a alma das pessoas?
A
inércia, o descaso, a incompetência das “autoridades”, apontam na direção da
última hipótese.
O
casario antigo de Curitiba está apodrecendo a céu aberto – os exemplos são contados
às centenas. Poderia ser recuperado, avivando a memória dos curitibanos, sendo
destinado aos mais diversos fins: museus, bibliotecas, auditórios, casas de
cultura, órgãos públicos etc.
Ou
até mesmo para simplesmente ficar ali, preservado e educativo, para o convívio
dos habitantes da cidade.