O artigo aqui publicado é escrito por André Seffrin, um refinado crítico da literatura brasileira contemporânea. Ele destaca duas boas antologias (Antologia da poesia erótica brasileira, ed. Ateliê, 2015, org. Eliane Robert Moraes e Poemas para Dom Quixote & Sancho, ed. UFPE, 2015, org. Carlos Newton Jr.) e um livro muito ruim mas que é badalado por aí para enganar incautos, A poeira da glória: uma (inesperada) história da literatura brasileira, ed. Record, de Martim Vasques da Cunha. Sobra uma paulada em Bruno Tolentino.
Não perca. Para não ler gato por lebre.
PUBLICA-SE
NO BRASIL - André Seffrin
É tempo de boas antologias por aqui. Para começo de
conversa, a Antologia da poesia erótica
brasileira (Ateliê, 2015), organizada por Eliane Robert Moraes, nossa
especialista no tema, que escreve um prefácio bem situado e reúne poemas de
Gregório de Matos aos contemporâneos. Já os Poemas
para Dom Quixote & Sancho
(UFPE, 2015), organizados por Carlos Newton Júnior, nosso afinado antologista e
também poeta dos bons, é livro que reúne um grupo forte de poetas de língua
portuguesa em torno do mito do Quixote no quarto centenário da publicação integral
desse clássico de Cervantes.
E é igualmente tempo de ensaio, de bons ensaios e
alguns nem tanto. O livro de João Cezar de Castro Rocha, Por uma esquizofrenia produtiva: da prática à teoria (Argos, 2015,
organização de Valdir Prigol), e o de Roberto Acízelo de Souza, História da literatura: trajetória,
fundamentos, problemas (É Realizações, 2014), ambos de qualidades excepcionais,
deveriam orientar todos os cursos de Letras deste país baldio, sobretudo para
que as novas gerações de estudantes alcancem noção menos estreita das tantas dificuldades
que envolvem o ensino da literatura.
Ao contrário, o “compêndio” A poeira da glória: uma
(inesperada) história da literatura brasileira (Record), de Martim Vasques
da Cunha, está entre os “ensaios nem tanto”, ou melhor, entre os maus livros do
período. Outra informação estampada na capa entrega o jogo: “O livro que até
mesmo o politicamente incorreto considerou imprudente”. E o resto é mágica de
circo, jornalismo literário de muito duvidosa extração, bem ao gosto do funil mercadológico
de sempre. Pode ser bastante lucrativo para o editor, por vezes atrai público
ávido por verdes e amarelas novidades frívolas e pode render um bom direito
autoral. Não acompanhei, mas é possível que tenha alcançado divulgação na Veja (essa revista que, segundo um
amigo, devemos folhear com luvas Lemgruber). Sim, um livro recheado de afirmações
bombásticas e citações equívocas, como aquela do soneto na página 558, que
Vasques da Cunha utiliza de exemplo ao tratar do que define como “a tragédia de
José Guilherme Merquior”. Pois sim, só incautos ainda acreditam nesse grande
embuste chamado Bruno Tolentino e seus mágicos sonetos...