quarta-feira, 25 de janeiro de 2017







Charles Bukowski, o velho safado




Esse autêntico escritor norte-americano nasceu na Alemanha, mas, sendo filho de um soldado norte-americano e de uma alemã, seu destino eram os EUA.
Foi levado à América aos três anos de idade e lá fez toda a sua vida. Uma vida de excessos, de bebedeiras monumentais e de cigarros fumados um após o outro, o que o levou a muitas internações para drenar o álcool e a nicotina que havia ingerido em doses industriais. No entanto, viveu 73 anos. E apesar das evidências ele alegava que havia muito de exagero quando falavam dele como um alcoólatra incurável e um fumante furioso. A sua vida não teria sido uma sucessão de orgias. Cigarro, álcool e mulheres. Mas é essa a imagem que dele ficou.
Escreveu romances, contos e poemas. É o último dos escritores malditos.
Publico aqui o poema So you Want To Be A Writer por ser um retrato muito claro de uma visão da literatura como um vômito absolutamente autêntico dos sentimentos que se movem no fundo de nossas almas. Para Bukowiski, o velho safado, tudo deveria ser assim: em estado bruto, autêntico, nascido de um impulso incontrolável. Se a literatura é sempre assim, é outra história.
Abaixo, o texto original e uma tradução para o espanhol.




So you want to be a writer

if it doesn't come bursting out of you
in spite of everything,
don't do it.
unless it comes unasked out of your
heart and your mind and your mouth
and your gut,
don't do it.
if you have to sit for hours
staring at your computer screen
or hunched over your typewriter
searching for words,
don't do it.
if you're doing it for money or fame,
don't do it.
if you're doing it because you want women in your bed,
don't do it.
if you have to sit there and rewrite it again and again,
don't do it.
if it's hard work just thinking about doing it,
don't do it.
if you're trying to write like somebody else,
forget about it.
if you have to wait for it to roar out of you,
then wait patiently.
if it never does roar out of you,
do something else.

if you first have to read it to your wife
or your girlfriend or your boyfriend
or your parents or to anybody at all,
you're not ready.

don't be like so many writers,
don't be like so many thousands of
people who call themselves writers,
don't be dull and boring and
pretentious, don't be consumed with self-love.
the libraries of the world have
yawned themselves to sleep
over your kind.
don't add to that.
don't do it.
unless it comes out of
your soul like a rocket,
unless being still would
drive you to madness or
suicide or murder,
don't do it.
unless the sun inside you is
burning your gut,
don't do it.

when it is truly time,
and if you have been chosen,
it will do it by
itself and it will keep on doing it
until you die or it dies in you.

there is no other way.

and there never was.





¿Así que quieres ser escritor?

Si no te sale ardiendo de dentro,
a pesar de todo,
no lo hagas.
A no ser que salga espontáneamente de tu corazón
y de tu mente y de tu boca
y de tus tripas,
no lo hagas.
Si tienes que sentarte durante horas
con la mirada fija en la pantalla del computador
o clavado en tu máquina de escribir
buscando las palabras,
no lo hagas.
Si lo haces por dinero o fama,
no lo hagas.
Si lo haces porque quieres mujeres en tu cama,
no lo hagas.
Si tienes que sentarte
y reescribirlo una y otra vez,
no lo hagas.
Si te cansa solo pensar en hacerlo,
no lo hagas.
Si estás intentando escribir
como cualquier otro, olvídalo.
Si tienes que esperar a que salga rugiendo de ti,
espera pacientemente.
Si nunca sale rugiendo de ti, haz otra cosa.
Si primero tienes que leerlo a tu esposa
o a tu novia o a tu novio
o a tus padres o a cualquiera,
no estás preparado.
No seas como tantos escritores,
no seas como tantos miles de
personas que se llaman a sí mismos escritores,
no seas soso y aburrido y pretencioso,
no te consumas en tu amor propio.
Las bibliotecas del mundo
bostezan hasta dormirse
con esa gente.
No seas uno de ellos.
No lo hagas.
A no ser que salga de tu alma
como un cohete,
a no ser que quedarte quieto
pudiera llevarte a la locura,
al suicidio o al asesinato,
no lo hagas.
A no ser que el sol dentro de ti
esté quemando tus tripas, no lo hagas.
Cuando sea verdaderamente el momento,
y si has sido elegido,
sucederá por sí solo y
seguirá sucediendo hasta que mueras
o hasta que muera en ti.
No hay otro camino.
Y nunca lo hubo.





sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Trump, um troglodita no poder ou Homer Simpson na Casa Branca





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Todos os países criam sua violência específica. Os EUA são um país que coloca a vingança pelas armas como algo emblemático. O país foi estabelecido entre enforcamentos e balas de Colt.45.
A violência está no coração da América. O país foi gerado num misto de espírito desbravador, trabalho árduo e violência. Em nenhum lugar o xerife foi uma figura tão emblemática. Uma estrela no peito e um Colt.45 na cinta, eis a imagem da justiça na mente americana.
Mas a violência não é exclusividade dos EUA. O Brasil tem dado exemplos perversos de violência – tal como na degola, uma prática corrente na história brasileira, em particular no final do século XIX, quando da Revolução Federalista. Ocorre que nos EUA não se trata só de violência, mas de um culto da violência. A violência não apenas como vingança, como crueldade bruta, como evento sanguinário, mas como uma extensão do individualismo norte-americano: o indivíduo justiceiro. Justiça feita com o revólver do cowboy, a corda do enforcamento, o murro do super-herói. Há uma espécie de aura sagrada em torno da violência no universo mental norte-americano.
Muito se discutiu, talvez inutilmente, se a violência mostrada nos filmes não levaria a mais violência. A questão se coloca, penso eu, não apenas porque filmes retratam atos de violência, mas porque no universo ficcional norte-americano, a violência é glamourizada.
Essa violência em estado bruto, não é vista como crime ou desrespeito à vida, mas como um momento excepcional de aplicação dos ideais americanos. Não é sem motivo que o país se imaginou – e se imagina ainda – como uma espécie de justiceiro da ordem mundial.
Outra face dessa mitificação do justiceiro se une à grosseria, ao culto do machão estúpido, ao elogio da ignorância.
Ao juntarmos esses dados entendemos a eleição de Trump.
Ele não é apenas uma massa bruta de burrice. Ele se orgulha de sua brutalidade e glamoriza a violência. É uma criatura inflada de egolatria e de um orgulho arrogante. Eis nos diz: eu sou o grosso que tem a força, eu sou o estúpido que tem o dinheiro, eu sou o poderoso que poderá massacrá-los. Ele não tem respeito por ninguém, é incapaz de amar ou de sentir compaixão ou de ser generoso. Daí desprezar as mulheres, caricaturar deficientes físicos, ser racista.
Ele não é a América que admiramos, aquela do jazz, da literatura notável, dos filmes brilhantes, dos feitos tecnológicos.
Trump é uma das encarnações de Homer Simpson.
Trata-se de um sujeito grosseiro e ressentido, cujo cérebro sofre de uma deficiência de sinapses e neurônicos. É um modelo de mediocridade. Não estudou e não leu nada. Despreza a inteligência. É o homem sem refinamento que se vangloria da própria ignorância. Arrota em público, engole sanduíches repugnantes e litros de cerveja. Só pensa no seu umbigo. Trata sua mulher como um lixo, e os filhos como trambolhos que impedem seu desejo de ficar em frente da TV vendo partidas de rúgbi enquanto se embebeda.
Tal como Homer Simpson, Trump é um piadista grosseiro que pode eventualmente passar a mão na bunda de uma mulher e se gabar de ser capaz de levar qualquer uma para a cama.
A classe média ressentida elegeu Homer Simpson. E nós teremos que conviver com esse tipo pelo menos por quatro anos, sem sabermos o número de besteiras que será capaz de produzir.
Se a síndrome do cowboy justiceiro encarnar no Trump, estaremos fritos.





quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Um ano novo de novo?




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Afinal estamos em 2017.
No começo a gente custa a se habituar. Aquele 17 parece um equívoco. Experimente preencher um cheque para ver. A grande vantagem é que ninguém mais preenche cheques.
Em todos os casos, estamos em 2017.
Confesso que sofro muito com a passagem de ano. A cada 31 de dezembro preciso me preparar espiritualmente para enfrentar aqueles vinte minutos de foguetório. Eu e todos os cachorros da vizinhança entramos em pânico. Eles ao menos podem latir. Eu coloco algodão nos ouvidos e fico quieto, vendo alguma bobagem na TV ou lendo algum livro. Vinte minutos passam rápido, tento me consolar, mas sei que não é verdade. Duram uma eternidade.
O fato é que eu me pergunto por qual razão os seres humanos têm necessidade de barulho para fingir que estão felizes. Para minha surpresa, de uns anos para cá tenho ouvido foguetório também no Natal. O que terá o Natal com foguetório? Alguém sabe?
Eu não sei.
E me vem a pergunta: o que há no barulho que não há no silêncio?
Agora, em função da crise, o tempo de foguetório foi diminuído em alguns minutos. Não notei muita diferença. Acho que poderiam soltar fogos de artifício, desses que só fazem desenhos e grafites no céu. Faria sentido. Mas tiroteio? Para que barulheira?
Os cães aqui da vizinhança, que latem enquanto eu digo alguns palavrões, sofrem muito. Eu tive um cachorro husky, chamado Nasco, que era meu alter-ego canino. Ele tinha uma qualidade invejável: não obedecia a ninguém e não temia coisa alguma, nem fiação elétrica, com o que levou vários choques.
Pois o Nasco, animal tão nobre, tão belo, de inquietantes olhos azuis, forte, corajoso, entrava em pânico com o foguetório. Agitava-se, corria pelo quintal, enfiava-se num canto, junto com a Aika, sua namorada. Os dois sofriam muito e nada os acalmava. Eram os 20 minutos mais longos de nossas vidas.
Quando o foguetório acabava, estávamos exaustos.
Eis porque eu e os cães sofremos muito nos finais de ano. No Natal tenho que suportar o Papai Noel. Admiro o aniversariante do dia, Cristo, mas não entendo quem inventou que essa figura gorducha, de riso caricatural, um consumista perverso, deveria ocupar o lugar central no Natal.
A festa não é religiosa? Cristo não é o homenageado?
O comércio agradece.
Darci Ribeiro dizia que seu sonho era ser Imperador do Brasil. Colocaria o país nos eixos. Pois eu, caso assumisse algum cargo de dirigente do mundo, acabaria com foguetórios. No lugar deles, poderíamos organizar gargalhadas coletivas, por exemplo. Canto coral à beira mar. Palmas ao anoitecer. Aproveitaríamos a ocasião para pedir, ai de nós, perdão pelos nossos pecadilhos, nossas culpas e eventual desânimo em viver. Eu pediria desculpas pelo mau-humor que me ataca nessas festas de fim de ano.
Trocaria tudo isso por um cálice de vinho, a leitura de alguns poemas, boa música, um sono quieto e alguém ao alcance da mão que eu pudesse acalmar caso algum infeliz soltasse foguetes nas redondezas.
Ah, sim, a passagem de ano seria comemorada com cinco minutos do mais absoluto e sagrado silêncio.
Que 2017 nos seja leve.